Os esquemas que a Rússia tem usado para contornar as sanções do ocidente, com uma ajuda dos ‘amigos’ e aliados

Após a invasão da Ucrânia, depressa o Ocidente começou a castigar a Rússia com uma série de pacotes de sanções que afetam vários setores, mas certo é que Moscovo igualmente rápido encontrou formas de contornar as punições ocidentais.
Com ajuda de aliados e territórios vizinhos, a Rússia tem conseguido contornar as sanções aplicadas e garantido que alguns produtos, que o Ocidente cortou o fornecimento, chegam à mesma ao país através de outros intermediários.
Um dos casos observou-se na Arménia no último verão: um verdadeiro fenómeno. As importações de telemóveis e smarthphones a partir de todo o mundo para a Arménia dispararam mais de 10 vezes em valor, quando comparadas aos meses anteriores, e, ao mesmo tempo, o país registou uma aumento explosivo das exportações dos mesmos aparelhos para um aliado: a Rússia.
A tendência já tinha sido usada antes, com máquinas de lavar, chips de computadores e outros produtos, vindos de países asiáticos, para garantirem formas de manter a economia russa a flutuar. Dados recentes sobre trocas comerciais revelam que países como a Turquia, China, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão, estão a aumentar as exportações para a Rússia, o que sugere que estão a tentar garantir o fornecimento de produtos que o Ocidente ‘cortou’ na aplicação de sanções.
Mesmo com todas as limitações impostas, de restrições a bancos até à venda e compra de tecnologias, a Rússia parece estar a recuperar a pouco e pouco, e analistas até apontam que as importações da Rússia já recuperaram para níveis de antes da guerra na Ucrânia.
Também a Rússia parece ser difícil de abandonar por algumas marcas e negócios. Investigação recente, citada pelo Politico, revela que apenas cerca de 9% das empresas sediadas na europa e países do G7 terminou os negócios que tinha com as subsidiárias na Rússia. Ao mesmo tempo, empresas de tráfego marítimo têm visto um aumento de trabalho em frotas que poderão estar a ajudar a Rússia a contornar as sanções no que diz respeito ao setor da energia, particularmente na venda de petróleo.
Até esta segunda-feira o FMI melhorou as expetativas que tinha para a economia russa, esperando um crescimento este ano de 0,3%, uma enorme melhoria da anterior previsão de 2,3% de contração na economia da Rússia. O FMI também aponta que o volume de exportações de crude russo continuará forte, mesmo com o ‘travão’ imposto pelo Ocidente, já que a Rússia desviou o seu mercado para países que não impõem sanções, como alguns países africanos.
Assim, os navios que transportavam bens como telemóveis, eletrodomésticos e partes de carros para S. Petersburgo, agora deixam a carga noutros países. Os produtos são depois enviados por camiões e comboios para a Rússia, a partir da Bielorrússia, China ou Cazaquistão.
Transportadoras com a russa Fesco até já inauguraram novas rotas de transporte de mercadorias entre Novorossiysk e Instambul, na Turquia, que terão o objetivo de garantir fornecimento de bens ocidentais.
A Rússia deixou de divulgar publicamente dados económicos regulares desde o início da guerra na Ucrânia, mas segundo especialistas ouvidos pelo Politico, o volume de exportações para a Rússia já terá atingido o valor de recuperação em dezembro.
“A maior parte dessa recuperação foi conduzida pela China e pela Turquia, em particular”, aponta Matthew Klein, especialista em economia e mercados, que aponta os “padrões suspeitos” da forma como estas trocas comerciais poderão ser efetivamente um esquema de contorno das sanções ocidentais à Rússia.
A ‘arma’ do teto máximo a aplicar nas trocas de petróleo russo, que o Ocidente esperava ter efeitos dissuasores este ano, poderá também não ter o efeito desejado.
Ami Daniel, diretor-executivo da WindWard, empresa de dados marítimos, relata centenas de instâncias em que pessoas e empresas de países como os Emirados Árabes Unidos, Índia, China, Paquistão, Indonésia e Malásia compraram embarcações para tentar montar o que parecia ser um ‘mercado não ocidental’ de troca de petróleo russo.
“Basicamente a Rússia está-se a preparar para ser mesmo capaz de vender petróleo completamente fora da lei”, aponta o especialista.