Inflação: Crise está a mudar comportamentos e hábitos de consumo. Portugueses vão menos ao cabeleireiro e a restaurantes, cortam nos banhos e compram menos roupa

A inflação e a subida do custo de vida levaram a mudanças que, para a maioria, tiveram que ser radicais para enfrentar as contas ao fim do mês, e muitos portugueses viram-se obrigados a fazer cortes em algumas despesas, incluindo em áreas essenciais como a alimentação ou a energia.
Mas nem só nos super e hipermercados os portugueses estão a consumir menos (e não é só por causa dos preços mais altos): as mudanças de comportamento de consumo encetadas para responder à crise inflacionista já estão a afetar outros setores, como cabeleireiros, bares, restaurante, lojas de roupa, papelarias, tabacarias ou minimercados.
De acordo com dados do INE, citados pelo Expresso, entre novembro do ano passado e janeiro deste ano fecharam portas 1639 lojas, o dobro das que abriram no mesmo período, e o dobro das que encerraram no mesmo período do ano anterior. O número significa que, em média, fecham 18 lojas por dia em Portugal.
O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes, aponta que a tendência “é preocupante” e garante que se vai refletir, de forma inevitável, “nos números do desemprego “.
Segundo um inquérito da Deco, agrava-se a situação financeira de muitas famílias, com 44% a já relatar dificuldades em pagar a casa e pôs comida na mesa, e 8% em risco de deixar de conseguir pagar estas despesas.
Perante a realidade da subida dos preços, 27% da população diz que já teve de recorrer a poupanças, e 75% afirma que é impossível ou quase impossível poupar seja o que for ao final do mês.
Os cortes em gastos mais reportados pelos inquiridos são na energia, lazer, restaurantes e bares, alimentação, roupa e acessórios, cultura (teatros, concertos, museus), férias e viagens e mobilidade (automóvel e deslocações).
No que respeita a restauração, entre novembro de 2022 e janeiro deste ano fecharam 1288 estabelecimentos neste setor, mais 69% dos que abriram e praticamente o triplo do registado no ano anterior. A área Metropolitana de Lisboa é onde ocorreram maior parte dos fechos de restaurantes, especialmente na capital e em localidades como Cascais, Sintra, Amadora ou Loures. São muitos os que cortam nas idas aos restaurantes (39%, segundo a NIQ) e as marmitas são vistas como uma opção mais económica para muitos, em contexto laboral. Também o teletrabalho, que se manteve, contribuiu para a mudança de comportamento.
O INE assinala que, pela primeira vez nos últimos 10 anos, o consumo de bem alimentares caiu, numa descida de 2,3%. Ou seja, nos supermercados os portugueses estão a comprar cada vez menos produtos, mas por preços mais altos.
As lojas de roupa têm sentido especialmente os efeitos dos cortes feitos pelos portugueses nas despesas. A consultora PWC realizou um estudo em 25 países, que mostrou que 41% dos consumidores estão a comprar menos roupa e acessórios. Em Portugal a tendência é mais acelerada, com o estudo da Deco a apurar que 80% dos cidadãos nacionais afirmarem estar a cortar nos gastos com roupa.
Os portugueses estão também a recorrer a pacotes de televisão e telecomunicações mais baratos ou com menos canais, segundo um estudo da Marktest.
Já na eletricidade e gás, com as faturas a subir 80% dos inquiridos pela Deco diz que apaga as luzes mais vezes e 67% afirma que já está a tomar duches mais curtos ou a tomar menos banhos.
Nos cabeleireiros, segundo relata Cristina Bento, da Associação Portuguesa de Barbeiros, Cabeleireiros e Institutos de Beleza, os portugueses estão a ir com menos frequência aos estabelecimentos e vão apenas para o essencial: corte e/ou pintura. Os gastos com produtos cosméticos também estão em queda, de acordo com dados da SIBS Analytics.
Já nos ginásios, onde o estudo da Deco diz que 48% dos portugueses já cortam, a atividade física é substituída em muitos casos por outras que não tenham custos, como fazer exercícios em casa ou correr na rua. Ainda assim, a Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal diz que a procura não diminuiu e o número de sócios e a frequência semanal de quem vai ao ginásio, aumentaram.