Deportações em massa e sequestros: A estratégia de Putin para subjugar o Donbass antes do assalto final

Vários habitantes de Mariupol e de outras cidades da região do Donbass, no leste da Ucrânia, ocupadas pelas tropas russas estão a ser deportados em massa e alvo de sequestros.
De acordo com o ABC, há relatos de cerca de trinta sequestros de autarcas, mas também de dezenas de sequestros de jornalistas e ativistas. As denúncias de desaparecimentos de civis são recorrentes em todas as zonas ocupadas pelas forças russas.
A avó de Karina Petrovka foi uma das pessoas deportadas para a Rússia. “A 28 de fevereiro perdi o contacto com ela, até que me ligou a 24 de março. Disse-me que foi transferida para a cidade russa de Yaroslavl, com outros. Disse-me que davam-lhe de comer, que estava bem e para não me preocupar com ela. Também me disse que não quer voltar a Mariupol, porque não há sítio para onde voltar, agora que está tudo destruído”, contou. “O pior é que não sei se os russos a forçaram a dizer-me aquilo”, frisou.
O Kremlin tem negado as deportações e os sequestros de pessoas na Ucrânia, explicando, ao invés, que 420 mil pessoas abandonaram o país vizinho “voluntariamente” e rumaram à Rússia, “fugindo das perigosas regiões da Ucrânia e das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk”.
A comissária dos Direitos Humanos da Ucrânia, Lyudmila Denysova, apresentou uma versão diferente e garante que o “exército russo deportou forçosamente 700 mil ucranianos para a Rússia, entre os quais 130 mil crianças”. Denysova acrescentou que todos os dias cerca de 20 mil ucranianos são levados à força para a Rússia.
As deportações da população ucraniana, bem como a substituição de autarcas ucranianos por autoridades municipais pró-russas e a obrigatoriedade dos funcionários locais de assinarem novos contratos com a Rússia, estão a caracterizar a ocupação russa no Donbass e a expansão territorial no leste da Ucrânia.
No fundo, parece tratar-se de uma estratégia de alteração demográfica, passando de uma sociedade mista para uma obrigatoriamente pró-russa.
Esta estratégia de deportações em massa recorda a União Soviética, que retirou três milhões de pessoas das suas regiões de origem entre 1936 e 1952.
Para as pessoas que vivem no Donbass este não é um pesadelo novo. Começou em 2014 na sequência da anexação da Crimeia por parte da Rússia. Agora é um pesadelo constante e está a piorar.