Covid-19: Governo foi “demasiado otimista” no alívio de medidas. Especialista diz que é necessário “dar um passo atrás” antes que seja “tarde demais”

A pandemia de Covid-19 enfrenta um ressurgimento em Portugal, com um relatório do Instituto Superior Técnico (IST) a alertar que a eliminação do uso de máscara aumentou as infeções, originando uma possível sexta vaga.

À Multinews, Pedro Esteves, professor de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), manifesta algumas preocupações.

“Acho que o sinal que o Governo deu foi demasiado otimista, de que as coisas estavam resolvidas, as pessoas podiam relaxar e estava tudo bem. E, de facto, terem acabado com os testes grátis na farmácia dá um sinal errado às pessoas de que não têm que se preocupar”, sublinha.

Segundo o especialista, “o que nós estamos a ver não é bem isso. Estamos a perceber que isto está muito longe de acabar e que não se vai resolver nos próximos tempos”.

“E o que eu temo é que se não recuarmos e se perdermos um bocadinho do controlo, não tenhamos a dimensão real das coisas e se calhar quando formos atuar já vai ser tarde demais”, alerta. “Temos que repensar um pouco e dar um pequeno passo atrás”, acrescenta.

Mas em que consiste esse passo atrás? “Permitir novamente que as pessoas se possam testar de forma gratuita nas farmácias”, defende. Depois, “manter os isolamentos é muito importante, estar doente e não se isolar é um erro enorme para qualquer situação contagiosa”, sublinha. 

“Em relação às máscaras, deve haver bom senso. Na minha opinião continua a fazer sentido a sua utilização em espaços fechados com muita gente, é um problema quando isso não acontece”, reitera.

Recorde-se que o uso generalizado de máscaras deixou de ser obrigatório a partir de 22 de abril, com exceção dos estabelecimentos de saúde, incluindo farmácias comunitárias, assim como nos lares de idosos, serviços de apoio domiciliário, unidades de cuidados continuados e transportes coletivos de passageiros.

Filipe Froes defende antecipação da 4.ª dose da vacina

O coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, Filipe Froes, que também participou na elaboração do relatório do IST, defende “que há uma necessidade de voltar a estar disponível no site da DGS  a informação diária relativamente ao movimento, internamento e caracterização demográfica dos indicadores”.

Para além disso, adianta à Multinews, o ressurgimento da pandemia e a possível sexta vaga, “reforça a antecipação da quarta toma da vacina para a população idealmente com mais de 60 anos, independentemente de haver fatores de risco ou não”.

É ainda necessário “haver acesso aos novos fármacos antivíricos e aos anticorpos monoclonais, de maneira a que as pessoas mais vulneráveis, possam encontrar a proteção que precisam sem estarem dependentes da máscara, do confinamento e da imunidade menor da vacina.”, conclui.

De acordo com o relatório do IST, a incidência média a sete dias aumentou de 8.763 para 14.267 casos desde 19 de abril, o que se deve “à retirada abrupta do uso de máscara em quase todos os contextos e à nova linhagem BA.5 da variante Ómicron que começa a instalar-se” no país.

Com dados de 09 de maio, o grupo de trabalho adianta que o Indicador de Avaliação da Pandemia (IAP) do Instituto Superior Técnico e da Ordem dos Médicos está agora nos 83.8 pontos, com tendência de subida e acima do “nível de alarme”.

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