Como o embargo da UE ao ‘diesel’ russo pode afetar os preços dos combustíveis nos próximos meses

A Europa está a dar mais um grande passo para cortar os laços energéticos com a Rússia através da proibição da importação de gasóleo e outros produtos fabricados a partir do petróleo bruto nas refinarias russas.
A proibição da União Europeia (UE), que entra em vigor dia 5 de fevereiro na sequência do seu embargo ao carvão e à maior parte do petróleo proveniente da Rússia, tem como objetivo tentar acabar com o uso da energia do país invasor e enfraquecer o Kremlin numa altura em que se aproxima o aniversário da invasão da Ucrânia.
Contudo, a mais recente proibição acarreta alguns riscos a nível mundial, que vários países têm vindo a experienciar. Desde que a invasão da Ucrânia começou, a 24 de fevereiro de 2022, os preços do gasóleo sofreram alterações bruscas e podem continuar a subir.
A maioria dos produtos que consumimos são transportados por camiões, que na sua maioria funcionam com gasóleo, o que o torna num combustível fundamental para a economia global, servindo também equipamento agrícola, autocarros urbanos e equipamento industrial. Assim, quando o custo do gasóleo aumenta, esta inflação reflete-se nos preços de todos os produtos.
A Europa vai suspender a importação de produtos refinados por um total de cerca de um milhão de barris por dia e metade destes barris serão de gasóleo com baixo teor de enxofre com um alto valor calórico. Esta iniciativa não é uma surpresa, visto que em maio, já a Rystad Energy, um grupo de reflexão norueguês especializado em estudos estratégicos do setor, tinha lançado um alerta sobre as deficiências de um mercado europeu dependente da Rússia.
Como a procura total europeia de gasóleo se situa entre 6 e 7 milhões de barris por dia, a procura pode ser afetada em 8% de um dia para o outro, o que pode levar a Europa a procurar abastecimento de produtos refinados na Índia, Médio Oriente e China, mas a um custo mais elevado.
Será que as sanções europeias vão fazer subir os preços do gasóleo?
Vai depender. O gasóleo, tal como o petróleo bruto, é vendido a nível mundial e a Europa pode procurar novas fontes, tais como os Estados Unidos da América (EUA), a Índia ou países do Médio Oriente. Caso funcione, o impacto nos preços pode ser apenas temporário e não tão acentuado.
Contudo, de salientar que a Europa já reduziu as importações de gasóleo russo quase para metade, de 50% do total das importações antes da guerra para 27%. Quanto aos fornecedores norte-americanos, aumentaram as remessas para níveis recorde, de 34 mil barris por dia no início de 2022 para 237 mil barris por dia até agora em janeiro, de acordo com a S&P Global.
O responsável máximo da UE pela energia, Kadri Simson, defendeu que os mercados tiveram tempo para se adaptar após a proibição ter sido anunciada em junho, ideia que os europeus parecem ter seguido quando se abasteceram de gasóleo russo antes do prazo, com as importações a aumentar no mês passado.
Perante estas oscilações, o G7 argumenta a imposição de um limite de preço ao gasóleo russo para outros países, tal como aconteceu com o petróleo bruto russo que continua a fluir para os mercados mundiais, porém com menos receitas de Moscovo.
Se esta medida funcionar, os fluxos globais de gasóleo devem ser reordenados, com a Europa a encontrar novos fornecedores e o gasóleo russo novos clientes, sem uma grande perda de abastecimento. Porém, é difícil prever como vai funcionar o limite sem se conhecer se o preço será fixado e se a Rússia retaliará as remessas.
“As restrições nas exportações russas, caso venham a realizar-se, vão causar naturalmente alguns problemas em todo este processo de remodelação”, explicou a chefe de combustíveis e pesquisa de refinação para a Europa da S&P Global Commodity Insights Hedi Grati acrescentando: “A Europa estaria a competir com outros grandes importadores e isso causaria uma pressão ascendente sobre os preços”.
Se o limite não bloquear grandes quantidades de gasóleo russo pode haver “um pico de preços de curta duração” à medida que o mercado se ajusta, visto que os petroleiros teriam de fazer uma viagem mais longa para a Europa a partir dos EUA, Médio Oriente ou Índia em vez de partirem dos portos russos do Mar Báltico.
Apesar de o cenário ser incerto e duvidoso, um ano após a invasão da Ucrânia ter tido início, o Kuwait e a Arábia Saudita vão lançar uma nova e enorme capacidade de refinação no final deste ano, o que acontecerá também em Omã em 2024, o que “pode aliviar ainda mais quaisquer pontos de pressão decorrentes deste divórcio da Rússia”, segundo Grati.
A ofensiva militar é justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia. Esta invasão foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.