Mapas do confinamento: Um projeto de Cultura sem fronteiras que é um ato de resistência

Fevereiro deste ano. Gabriela Ruivo Trindade, escritora, a viver em Londres; Nuno Gomes Garcia, escritor, a viver em Paris. A pandemia a minar ideias, a isolar pessoas, a afastá-las, a deixar a Cultura perdida. Então, e que tal criar um projeto que envolvesse artistas de diferentes áreas, ultrapassando fronteiras, unindo a lusofonia por esse mundo fora e tornando-se um ato de resistência? No princípio, foi mais do que o verbo – foi a fotografia, as artes visuais. Surgiu o site mapasdoconfinamento.com, no qual os próprios criadores, autores do grafismo e editores de cada componente, explicam a origem de tudo.

“Pensámos que seria bom trabalharmos em conjunto para marcarmos da melhor forma o aniversário desta nossa nova forma de vida. Encontrar um projeto artístico comum, nestes tempos difíceis, pode dar-nos um alento inesperado. Ver romancistas, poetas, ilustradores, tradutores, fotógrafos… das mais diversas origens – tendo a língua portuguesa como denominador comum – a contribuírem para um projeto que sirva de memória futura, que caracterize e descreva o momento (verdadeiramente) histórico que estamos a viver, é algo de enorme relevância”, descrevem.

“Desenharmos em conjunto os mapas do confinamento que cada um de nós experienciou, tanto física como emocionalmente, ou elaborarmos um manifesto de revolta contra as políticas desastrosas de (des)apoio à cultura que vemos grassar por esse mundo fora é, a nosso ver, absolutamente essencial”, acrescentam.

Passear pelo site é partir à procura dos trabalhos e dos cerca de 100 nomes que o compõem – de Maria Teresa Horta a Ondjaki, Afonso Cruz, Aida Gomes ou Almeida Cumbane; de Teresa dos Santos a Goretti Pereira; de Lelena Lucas a Heduardo Kiesse, desfilando por diferentes formas de fazer Cultura. E se a união é feita a partir da língua portuguesa, não se limita a ficar por aí: cada texto ecoa depois em inglês e francês para que (muitos) mais sejam atraídos.

“Os livros, o teatro, os museus… deveriam ser considerados bens de primeira necessidade. Os profissionais da cultura encontram-se abandonados e entregues à sua sorte. Unirmo-nos numa empreitada comum poderá tornar-se também um ato de resistência”, escrevem os mentores no site. Não lhes faltam projetos. O que lhes falta mesmo é saber quando é que a Cultura será tratada como merece.




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